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Transfusão sanguínea em cães e gatos
Transfusão sanguínea em cães e gatos

Assim como na medicina humana, animais não sobreviveriam traumas severos, cirurgias e doenças que causam anemia sem o auxílio da transfusão sanguínea. A técnica de coleta de sangue e armazenamento em medicina veterinária é muito semelhante à medicina humana. Diversas pessoas voluntariam seus animais para serem doadores de sangue a recebem em troca um pacote de benefícios que podem incluir exame físico veterinário duas vezes ao ano, alimentação e vacinação pelo tempo em que seus animais continuem sendo doadores. Além de serem testados para vários tipos de doenças.

Em medicina veterinária, a transfusão sanguínea é espécie-específica, ou seja, cães só podem receber sangue de cães e gatos somente sangue de gatos. Cães e gatos também possuem grupos/tipos sanguíneos, assim como nós. Gatos possuem sangue do tipo A, B e AB e cães possuem 11 tipos diferentes de sangue, conhecidos como DEA (Dog Erithrocyte Antigen). O grupo DEA 1.1, 1.2 e 1.3 são os mais importantes no que se refere à transfusão sanguínea. Cães do grupo DEA 1.1 negativos são considerados doadores universais. Gatos não possuem doadores universais e, por este motivo, precisam ser testados sempre antes de uma transfusão.

Antes de uma transfusão sanguínea, o sangue do animal doador é colocado em prova contra o sangue do animal doente (recipiente) para checar a compatibilidade entre eles e evitar reações anafiláticas. Além da tipagem sanguínea, realiza-se o teste de cross-matching. Neste teste, as células vermelhas do sangue do doador são misturadas com o soro do sangue do recipiente e verifica-se qualquer reação. As reações ocorrem quando as células do soro do recipiente atacam as células vermelhas do doador, formando aglomerados de células na lâmina de sangue, chamamos esta reação de aglutinação. Na presença de aglutinação sanguínea, aquele sangue não poderá ser utilizado para transfusão.

Cães que estão recebendo transfusão pela primeira vez raramente manifestam reações, neste caso pode-se usar sangue DEA 1.1 negativo (doador universal) sem a necessidade de testes. No entanto, caso este animal precise de múltiplas transfusões, será necessário fazer o cross-matching, uma vez que, após uma transfusão, o sistema imune do recipiente desenvolve anticorpos que podem causar reação ao mesmo sangue. Gatos devem ser testados sempre, independente se é a primeira transfusão. As reações anafiláticas em gatos são extremamente sérias e devem ser evitadas a todo custo.

Existem diversos tipos de sangue que podem ser usados para transfusão, dependendo da situação. Os componentes sanguíneos, como células vermelhas, plasma e plaquetas podem ser separados e utilizados isoladamente. Células vermelhas são usadas em animais anêmicos devido ao trauma e perda de sangue ou doenças como anemia autoimune (autodestruição de células vermelhas), doença renal crônica e tumores no baço (hemorragia). Plasma é geralmente usado em coagulopatias (dificuldade em coagular o sangue), uma vez que o plasma possui fatores de coagulação. Plaquetas são usadas em animais com deficiência de plaquetas (trombocitopenia) causadas por doenças transmitidas por carrapato e trombocitopenia autoimune (autodestruição de plaquetas).

Transfusão sanguínea em cães e gatos, hoje em dia, é um procedimento comum e raramente causa reações, dado a devida atenção ao teste de cross-matching e à técnica de transfusão.

 

* Este Texto faz Parte da Coletânea do Dr. Luiz Bolfer e todos os textos das páginas da PetLine foram publicados em Colunas, Saúde Animal por Dr. Luiz Bolfer. 
Dr. Luiz Bolfer formou-se em Medicina Veterinária no Brasil e mudou-se para os Estados Unidos para se especializar em Cardiologia, Emergência e Cuidados Intensivos em cães e gatos. Completou 12 meses de Internato em Clínica Médica e Cirúrgica Veterinária na Universidade de Illinois. Atualmente é Residente em Emergência e Cuidados Intensivos no Centro Médico Veterinário da Universidade da Flórida em Gainesville.