Comportamento Animal – Socialização
Texto da Dra. Letícia Fanucchi é médica veterinária formada em Curitiba (PR). Trabalha, atualmente, na Universidade do Estado de Washington, nos EUA na área de comportamento animal.
É importante compreendermos que aula de socialização não é o mesmo que treinamento de obediência ou “agility”. O benefício de se socializar o animal, bem como habituá-lo à diferentes estímulos tais como, ir ao veterinário, interagir com pessoas e outros animais da mesma espécie ou espécies diferentes, ajuda a evitar problemas comportamentais na vida futura do indivíduo adulto. Outro benefício da socialização é educar o proprietário quanto à correta conduta com seu cão ou gato diante das mais diversas situações do cotidiano.
Há certa discordância quanto à idade ideal em começar este tipo de atividade pela questão das imunizações. De forma geral, se o animal começou a receber as vacinas na idade apropriada, ou seja, com seis semanas de idade, o filhote já pode ir pra escola com mais ou menos 12 semanas de idade. É importante ressaltarmos que além das vacinas, há outras condições a serem consideradas como:
1 - Os animais não devem apresentar sinais como diarréia, corrimento nasal ou outros sinais respiratórios, como tosse e espirros, problemas de pele.
2 - Se seu filhote foi exposto à outros animais com doenças infecciosas, mesmo que não estejam apresentando sinais, não devem ir às aulas.3 - Cães devem ter recebido a primeira vacina contra cinomose, parvovírus e hepatite pelo menos 10 dias antes da primeira aula.
3 - Gatos devem ter recebido a primeira vacina contra calicivírus, panleucopenia e rinotraqueíte 10 dias antes das aulas, bem como testarem negativos para FIV/FELV.
Um programa de socialização inclui geralmente as seguintes atividades:
1 - O filhote é segurado por várias pessoas, suas patas são tocadas, o pêlo é escovado, o animal recebe um caldo de carne ou peixe em uma seringa, ou um biscoito. O proprietário está aprendendo também como cortar as unhas do seu animal, como administrar medicamentos via oral, como escovar e tratar do pêlo do animal, e as questões básicas como manutenção da caixa de areia, banhos, dieta, o poste para o gato arranhar, primeiros socorros.
2 - Haverá interação entre indivíduos da mesma espécie, possibilitando ao animal aprender a ler o outro (linguagem corporal), brincando, exercitando limites, comunicando-se. A interação com animais de espécie diferente, como, por exemplo, cão com gato, gato com coelho, também é exercitado. O quanto mais cedo este contato positivo for estabelecido, melhor será o relacionamento entre os indivíduos adultos.
3 - Uma visita ao veterinário como um passeio, ir à clínica para ganhar um biscoito, ou um brinquedo novo, interagir com o médico de forma positiva, acostumar-se com o jaleco branco bem como com os odores característicos do ambiente da clínica, sem associar os mesmos com injeções ou outros estímulos dolorosos. Torne a saída de casa uma atividade recreativa.
4 - Caminhar na praça, ver outras pessoas, carros, sons característicos do ambiente urbano. Não tire seu cão de casa somente para ir ao veterinário, leve-o para passear todos os dias. Exponha-o à pessoas com deficiências físicas para que no futuro ele não ataque alguém na cadeira de rodas, ou com muletas/bengalas/andadores.
Estas são somente algumas das atividades envolvidas nas aulas de socialização, um plano de aula é montado de acordo com as possibilidades do grupo. Há vários pet shops que oferecem “Puppy Classes”, bem como clínicas veterinárias.
A socialização também deve ser praticada em casa. Segue aqui alguns conselhos importantes: não coloque o animal de costas no chão na tentativa de ensiná-lo que você é o dominante, isto só o ensinará a ter medo de você, levando a problemas de comportamento no futuro. Não puna-o se ele urinar ou defecar durante a aula ou em casa, muito menos esfregue o nariz dele nos excrementos. Não utilize suas mãos para brincar, provocando-o a morder você, isto o ensina que morder e arranhar as mãos dos outros é apropriado. Não grite com o animal durante as interações, você somente assustará à ele e aos outros.
Um animal que cresce trancafiado dentro de casa é uma bomba relógio, pronta para explodir ao primeiro estímulo negativo. O processo de desensibilização à estímulos do dia a dia evita problemas de comportamento no futuro. Um animal sociável é um animal feliz, portanto eduque-o! Animais com problemas de comportamento sérios ainda podem ser educados quando atendidos por profissional qualificado.